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UFPB tem 20 pesquisadores entre os 2% mais influentes do mundo
Era 1997 quando Celso Santos publicou seu primeiro artigo em uma revista internacional, no Japão, para onde se mudou para fazer o mestrado e o doutorado, após se formar em Engenharia Civil onde, à época, era o campus da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em Campina Grande. Apesar de seu retorno ao Brasil no início dos anos 2000, dessa vez para ser professor da UFPB, a carreira do campinense não parou de se internacionalizar, com diversos artigos publicados em periódicos de alcance globall. “Só no Google Scholar, constam mais de 7.500 citações”, conta o acadêmico. Seu trabalho tem dado frutos: Celso é um dos 20 pesquisadores da UFPB que estão entre os 2% dos cientistas mais influentes do mundo, segundo ranking elaborado pela Elsevier em parceria com a universidade de Stanford, nos EUA.
O principal parâmetro de classificação do ranking, que considera dados de 2024 e foi divulgado neste semestre, privilegia o impacto das citações, em vez da simples contagem de publicações. O índice leva em conta o número de coautores e aplica ponderações distintas conforme a posição do pesquisador em cada artigo (por exemplo, se ele foi autor único, primeiro autor ou último da lista).
Embora o professor Celso Santos seja da área de Engenharia, as áreas da UFPB que tiveram mais autores contidos no ranking foram as de Física e Química: cada uma com 7 pesquisadores. A área de Ciências Agrárias teve 2 pesquisadores na lista, já Biologia, Matemática e Estatística, Engenharia, e Tecnologias Habilitadoras e Estratégicas tiveram, cada uma, 1 pesquisador dentre os mais influentes.
Segundo o pró-reitor de Pós-Graduação da UFPB, Evandro Leite, que também é professor do departamento de Nutrição e, inclusive, está entre os 20 pesquisadores da universidade presentes no ranking, esse resultado evidencia o compromisso da universidade com a excelência acadêmica e científica e reforça o papel estratégico da pós-graduação e da pesquisa na produção de conhecimento de alto impacto. “Mais do que números, esse reconhecimento reflete a força coletiva dos nossos programas de pós-graduação, a qualidade dos nossos grupos de pesquisa e a visão institucional voltada à internacionalização e à inovação”, diz.
O professor do departamento de Química Mário Ugulino, atual diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), é um dos que aparecem no ranking. Para ele, que já apareceu em edições anteriores da lista, o reconhecimento é fruto de um trabalho intenso de pesquisa e orientação de alunos, principalmente na pós-graduação. “E o que vale destacar é que nossas pesquisas reconhecidas com as citações são feitas na UFPB e por pesquisadores vinculados à UFPB. Isso mostra a força do nosso programa”, destaca.
Estratégia semelhante, de buscar uma pesquisa que dialogue com o contexto local e global, é utilizada por Evandro Leite: “Alinhar a minha atuação científica com temas de relevância para as prioridades locais, mas com impacto global, contribui para que os trabalhos sejam citados e utilizados como referências por outros pesquisadores em diferentes partes do mundo”, disse.
Segundo o pró-reitor de Pesquisa da UFPB, José Roberto do Nascimento, que também é professor do departamento de Física, a tradição construída há décadas pelo programa de pós-graduação (para se ter uma ideia, o doutorado em Física existe desde 1980) é diretamente responsável pela grande quantidade de pesquisadores no ranking. “A Física na UFPB possui grupos de pesquisa consolidados, com forte tradição em produção científica de excelência e intensa cooperação internacional. Essa atuação se traduz em publicações de alto impacto e ampla visibilidade global, refletindo o engajamento dos pesquisadores em redes colaborativas que reúnem cientistas de diferentes países e instituições”, comenta.
Nesse sentido, o aumento do número de pós-graduações na UFPB nos últimos anos aponta para um futuro promissor. O próprio professor Celso Santos destaca a criação do doutorado no Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil e Ambiental como um dos marcos na intensificação de sua produção acadêmica. “Claro que é fundamental a formação de redes de contato internacionais e a publicação de periódicos de alto impacto, mas a formação de pesquisadores qualificados que irão pesquisar junto com você também é muito importante para o avanço da ciência de qualidade”, afirma.
Sub-representação das Ciências Humanas
Há que se considerar, porém, que a base Scopus, usada no ranking da Elsevier e Stanford, apresenta uma sub-representação das ciências humanas e sociais, pois privilegia periódicos internacionais em inglês e de grandes editoras comerciais, com foco em artigos de alto volume e forte densidade de citações, o que acaba favorecendo campos das ciências exatas, biomédicas e tecnológicas. Isso oferece uma visão parcial do impacto científico global, já que frequentemente nas ciências humanas os estudos são produzidos em português, em capítulos de livros ou em revistas nacionais. “Não se pode concluir pelo ranking então que as ciências exatas sejam mais importantes ou relevantes que as ciências humanas”, ressalta o coordenador geral de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Ricardo Romão.